Alguns jornalistas chegaram a tratar como "vítima" esse jovem criminoso de Santo André, que manteve a ex-namorada e uma amiga dela reféns. O fato de ele ser pobre, inculto e ter crescido numa família aparentemente desestruturada (o próprio reclamou da ausência do pai) não justifica essa ação de bandido. Alguém bem-intencionado não anda por aí com duas armas e munição. Um homem de bem não ameaça, pela TV, atirar na mulher que ele disse tanto amar — e depois, ao que parece, cumpre a "promessa" de ferir. Isso é atitude de um covarde egocêntrico.
Alguns hipócritas e alienados viram o episódio como um "caso de amor cinematográfico". Amor? Que amor é esse? Eu sugiro outras classificações: mente doentia e instinto criminoso. Ele, o criminoso, teve inúmeras oportunidades de encerrar o seqüestro pacificamente, resgardando a integridade de todos. Não quis. Parece ter pegado gosto pelo circo midiático: dezenas de câmeras apontadas em sua direção, uma platéia 24 horas, fama instantânea, um resgate da vida ordinária que ele sempre levou naquele bairro pobre e feio.
Alguns defensores do crápula bradam: "Ele é um menino bom.", "Nunca faria mal a ninguém.", "Coitadinho, ele apenas amou demais." Vale ressaltar que o perfil-padrão de um sociopata é exatamente esse: comportamento acima de qualquer suspeita.
O caso ganhou repercussão fora do país. Polícias estrangerias criticaram a demora em concluir o impasse. Em nações que aplicam a política de tolerância zero ao crime, essa situação teria sido "resolvida" rapidamente com uma invasão estratégica ou mesmo com a pontaria de um atirador de elite. A cartilha da polícia brasileira prevê a negociação até o limite do suportável. Foi o que aconteceu: 4 dias de tensão.
Ainda em relação à supervisibilidade dada ao rapaz, um policial disse que ele se sentiu uma "vedete". Ou seja: o criminoso virou uma celebridade e passou a se comportar como tal. Coisa de Brasil.
Impossível não citar uma antiga campanha contra a violência: "Quem ama não mata". Concordo que o ciúme fere, dói. O sentimento de rejeição é mesmo terrível. Porém, nenhum trauma dá o direito a alguém de agir assim, covardemente. Mais uma página triste da crônica policial brasileira.